Morre um pouco a cada dia, em silêncio, devagar,
Sem corte na pele, sem pular no escuro mar.
É um adeus que não grita, um aceno calado,
É deixar de sentir, é ficar estagnado.
É o abandono sutil do próprio querer,
É perder-se na sombra, deixar de viver.
É fechar os olhos para o que há de belo,
É enterrar-se em cinzas, num amargo flagelo.
É sufocar as palavras que querem brotar,
É fingir que se ri, quando é só para evitar.
É a lágrima seca que mais desce,
É um sorriso vazio que já não se esquece.
É calar o desejo de um toque, um afeto,
É construir ao redor um fio amuleto.
É cortar os laços, soltar-se ao relento,
É viver como pedra, sem cor, sem alento.
Cada gesto evitado, cada sonho apagado,
É um fio que se corta, um caminho cerrado.
E o coração vai murchando, perdendo o compasso,
Num lento desfazer-se, sem abraço, sem laço.
Não é a morte física que chega ao final,
É desistir de si mesmo, um ato fatal.
É o suicídio invisível, sem sangue ou veneno,
Mas que mata o ser vivo, de forma mais plena.
Então, resta o vazio, a ausência, o nada,
De um vida que segue, mas já é abandonada.
E o tempo persiste, sem cor e sem brilho,
Num suicídio emocional, em um lento exílio.
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